O que poderemos esperar da Adidas e das novas camisas do São Paulo?

Desde o anúncio da Adidas como nova fornecedora de material esportivo do São Paulo, muita coisa foi especulada, desde a data do início da produção até os modelos que poderiam ser (ou não) criados. Diante de tantos modelos criados por torcedores, o blog São Paulo Sempre convidou Glauco Diógenes, amigo, são-paulino, designer e sócio proprietário do GDS, estúdio de criação especializado em design e projetos  voltados ao universo esportivo, para um bate papo sobre a expectativa e o funcionamento deste tipo de parceria. Veja o que pensa o nosso entrevistado:

 

1) Glauco, como você enxerga a chegada da Adidas ao São Paulo Futebol Clube e qual será o maior impacto em relação aos produtos atualmente oferecidos pela Under Armour?

A expectativa é realmente muito alta por parte de todos, clube, dirigentes, a própria marca precisa dar uma resposta importante, afinal vale lembrar, ela chega diretamente de um rival; mas é da torcida que vem o maior clamor, o São Paulino está machucado, extremamente carente de boas notícias e enxerga na fabricante uma das possibilidades de resgate de uma era de ouro que começou ainda nos anos 1980, a associação de imagem de marca com um São Paulo vencedor é um ativo emocional importante, que se bem trabalhado pode render frutos em médio prazo. Uma camisa / fardamento de um time, talvez seja o produto de maior responsabilidade para um criativo / marca, pois é a materialização da paixão, de um sentimento e isso é sempre muito delicado de administrar. Em relação a Under Armour uma pena que não tenha dado certo, a marca é realmente gigantesca nos EUA, rivalizando e até com maior Share que a Nike e demais concorrentes em muitas modalidades, aqui no Brasil não conseguiu ainda os “deliveries” e logística necessários, talvez os movimentos internos não tenham sido corretos dentro do que o mercado corporativo convencionou chamar de “tropicalização da marca” e o momento conturbado do clube fatalmente contribuiu para esse processo, fosse eu quem estivesse a frente da condução dessa nova etapa da Adidas no São Paulo apostaria em dois pilares essenciais: “ode as tradições e olhar para o futuro”, a essência da marca tricolor, desde sempre.

 

2) Desde que o São Paulo anunciou a Adidas, muitos torcedores compartilharam sugestões de modelos de uniformes. Você encontrou algo interessante entre os modelos que circulam na Internet?

Pois é, essa é uma tendência não só no Brasil, como no mundo inteiro, sempre que um novo fornecedor se apresenta a um clube do tamanho e da importância do SPFC, proporcionalmente, aparecem as chamadas FanArts , particularmente eu acho divertido e consigo perceber claramente o valor social desse tipo de ação, vale e muito pra ser bem explorado como ferramenta de comunicação, interação e engajamento com a torcida, mas não creio que seja um parâmetro a ser seguido pelos criativos. A internet ofereceu muitas ferramentas e democratizou uma série de técnicas, mas isso não quer dizer que as pessoas estejam habilitadas a se transformarem em designers, médicos ou pilotos de avião simplesmente por gostarem ou saberem utilizar os softwares específicos de cada ofício, Design é ciência e precisa ser tratado e entendido como tal, sei que não é um discurso muito popular e vai meio contra com o que é interessante para alguns setores midiáticos divulgarem, mas o fato de você ter acesso a informação não te torna um profissional habilitado para determinado ofício.

 

3) Você poderia nos passar de uma forma resumida como são as etapas da criação e produção de uma camisa de jogo e torcedor? Como funciona a padronização mundial de uniformes da Adidas?

Isso varia muito de fabricante para fabricante, de modalidade para modalidade e até mesmo depende do time de criativos que tem a missão de desenvolver cada projeto, mas basicamente o modelo de camisa principal ou titular, dependendo do acordo firmado entre fornecedor e clube, tem um design de modelagem “exclusivo” ou seja a estrutura do uniforme tem um desenho ou deveria ter um desenho distinto de outro mesmo que da mesma fabricante, ex.: A camisa 01 do River, não pode ou não deveria ter a mesma estrutura de modelagem que a do São Paulo, o formato da gola em “V” ou “Polo” ou “Careca” tem que ser diferente da utilizada pelo Bayern, ou Real Madrid, etc, etc. No entanto isso nem sempre é possível por questões de calendário (olha ele aí outra vez), linha de produção, logística, distribuição, etc, o design visual, ou seja tudo o que é estampado, que é gráfico e pintado ou colado na camisa é uma parte do desenvolvimento e muitas vezes as pessoas também acabam confundindo essa etapa. A padronização mundial em geral é baseada na utilização dos chamados Templates estruturas idênticas que, em geral sofrem pequenas alterações para cada clube, obviamente que uma camisa nº02 do SPFC, mesmo que tenha o mesmo design de modelagem da camisa 1 do Real Madrid, por exemplo, ficará bem diferente e muitas vezes os torcedores não irão conseguir distinguir uma da outra, o que é completamente aceitável e do jogo, é impossível mesmo para uma marca gigante como a Adidas, conseguir fazer um design totalmente exclusivo para cada uniforme de cada time, seria inviável do ponto de vista de investimento e não faria sentido, para isso existem o design e o designer que utilizam técnicas para se chegar em resultados distintos mesmo em superfícies iguais. Para finalizar a diferença entre a camisa de torcedor e utilizada pelo atleta geralmente tem uma estrutura de modelagem bastante distinta, desde a escolha do tecido, passando pela estrutura de modelagem. O biotipo dos jogadores mudou muito dos últimos 15 anos para cá. Eles estão mais altos, mais “secos” e músculosos e existe uma tendência cada vez maior de utilização de equipamentos inteligentes, tecidos que permitam uma evaporação rápida do suor, cada vez mais “colados” ao corpo para evitar os agarrões, enquanto que para nós, simples mortais, aquela folga de um palmo abaixo do tórax é mais do que necessária para garantir o conforto dos “ventres avantajados estocadores de cerveja e Chope”.

 

4) Como você percebe a importância do design dentro dos clubes do futebol e como você faria a camisa do São Paulo se fosse convidado?

O design como disciplina e estruturação de negócio já é uma realidade mundial, não só em clubes de futebol como também nas pequenas, médias e grandes corporações. É essencial ao desenvolvimento econômico, maximização de recursos e bem estar, obviamente sempre tendo como meta o meio ambiente. No caso específico do São Paulo, acredito que a criação de um departamento, alinhado com a comunicação institucional e o marketing seria um avanço de suma importância, não só no que diz respeito ao desenvolvimento dos uniformes que são a cereja do bolo, como também de uma série de “regramentos” que iriam valorizar e potencializar ainda mais a força de marca do clube, esse departamento seria responsável entre outras coisas pelas multiplas aplicações de marca, seja na fachada do estádio, passando por sinalização e até um manual de marca com especificações de boas práticas para fornecedores, parceiros e principalmente os patrocinadores do clube. Quanto ao projeto de camisa a primeira coisa que eu faria seria uma imersão de pelo menos 3 semanas dentro do departamento de história do clube, o acervo é gigantesco e muito bem organizado, na sequência destacaria um type designer da minha equipe para desenhar uma família de fontes exclusiva para o clube, essa é a principal tendência mundial, as marcas tem fontes exclusivas que funcionam como uma voz para comunicação não verbal, a Coca-Cola recentemente lançou a sua e foi um sucesso. Também faria um ajuste pontual no design do escudo que já carece de uma modernização, pequenos ajustes no acrônimo, nos vértices e nas áreas internas para uma melhor aplicação e legibilidade. Ao todo criar uma camisa dentro dessas expectativas gigantescas levaria um tempo de desenvolvimento importante, algo em torno de 3 a 4 meses, e se tem uma coisa que nem São Paulo e nem qualquer fornecedor podem fazer nesse momento é errar.

 

Sobre o entrevistado: Glauco Diógenes 38, atua como Diretor Criativo, Designer e Ilustrador desde 2000 é sócio proprietário do GDS, estúdio de criação especializado em design e projetos  voltados ao universo esportivo. Para o SPFC, Glauco e sua equipe são responsáveis  pela criação da marca M50 em homenagem aos 50 anos do Estádio do Morumbi, dos selos LM20 e BLM20 em alusão as conquistas da libertadores de 1992 e 1993, além das esculturas dos 25 anos de carreira e da festa de encerramento do goleiro Rogério Ceni. Federação Paulista de Futebol, outras equipes nacionais e internacionais, além de Sesc, Museu do futebol também tem trabalhos com assinatura do designer.

 

Para acessar outras notícias do Blog São Paulo Sempre clique aqui.

 

Saudações Tricolores!
Daniel Perrone | São Paulo Sempre!

Me siga no Twitter
Me siga no Facebook
Me siga no Instagram

Post aberto para comentários.