O balanço financeiro do São Paulo foi divulgado no início do mês de maio. Consultei dois profissionais do setor para apresentarem uma visão de como anda o clube atualmente: Amir Somoggi, consultor de marketing e gestão esportiva e sócio da Sports Value e Filipe Braga Cunha, autor do blog/twitter Finanças Tricolor. Vamos a elas:
1) Análise de Amir Somoggi
Receitas – O faturamento do São Paulo atingiu R$ 424 milhões em 2018, frente aos R$ 483 milhões de 2017, queda de 12%. A queda nas receitas foi impactada pela redução das transferências que caíram de R$ 189 milhões para R$ 155 milhões, redução de 18%. Outro aspecto foi a redução das receitas de patrocínios, um dos pontos mais frágeis da gestão da marca do São Paulo há anos. As receitas com patrocínios caíram de R$ 57 milhões para baixíssimos R$ 23 milhões em 2018, queda de 59%. Segundo análise da Sports Value o clube é apenas o 9º time em receitas com patrocínios do Brasil atualmente, sendo a 3ª maior torcida do país, uma marca que cresce entre os jovens e com poder de consumo. O clube tem enorme potencial para crescer em marketing.
São Paulo depende muito das transferências de jogadores. Ao longo de 16 anos (2003 a 2018) o tricolor gerou R$ 1,08 bilhão transferindo aletas para outros times. O clube é disparado o time brasileiro que mais produziu recursos com transferências no Brasil.
Custos com o futebol – O SPFC reduziu seus custos com futebol em 2018, produzindo equilíbrio em suas contas. A redução dos custos com o departamento de futebol foi de 13%. Algo muito difícil de acontecer. Em 2018 os custos com futebol do Palmeiras cresceram 45% e Corinthians 11%.
Em geral o clube sempre amplia seus custos pressionando a gestão a vender jogadores para equilibrar o orçamento. Esse modelo dificulta que o clube cresça em outras frentes com receitas com jogos, atração de patrocinadores e venda de produtos. Segundo Amir, os ídolos são o combustível fundamental para alavancar o negócio do clube.
Analisando ao longo dos anos o clube mostra equilíbrio muito maior que em 2014, quando o índice custos com futebol/ receitas era de 95%, completamente desequilibrado. Segundo análise da Sports Value, o ideal é que um clube não ultrapasse 73%, índice atual do clube do Morumbi. O ideal para o SPFC é maximizar suas receitas e assim ampliar seu investimento no futebol, para crescer, ser campeão e manter o equilíbrio financeiro.
Superávits/Déficits – O equilíbrio financeiro do São Paulo pode ser verificado no superávit do clube em 2018, R$ 7,2 milhões. O clube apresentou superávit nos últimos três exercícios, o que é muito positivo. Nada parecido com as terríveis perdas de R$ -72 milhões em 2015 e R$ -100 milhões de 2014. Nos últimos 8 anos as perdas somadas são de R$ -125 milhões.
Dívidas (Cálculo da dívida líquida = Passivo – Ativo Circulante – Ativo Realizável) – As dívidas do clube foram reduzidas e estão no menor patamar desde 2013, o que é extremamente positivo. As dívidas foram reduzidas em 8%. Isso representa uma queda no endividamento de 25% em 4 anos, em um cenário de aumento generalizado de dívidas dos clubes. SPFC é apenas o 13º time brasileiro em dívidas, embora seja o 4º em faturamento, mostrando um equilíbrio muito maior que seus rivais. A relação dívida / receita do SPFC está em 0,64, frente aos 0,71 do Palmeiras, 1,01 do Corinthians, 1,87 do Santos ou 3,99 do Botafogo.
Um exemplo prático de quão positivo é a redução das dívidas foi a queda nas despesas financeiras do SPFC, que em 2017 eram de R$ 21 milhões e agora estão em R$ 17 milhões. Somente essa diferença garantiu praticamente metade do superávit de 2018.
Agradeço a Sports Value pelo detalhamento da situação financeira do clube. A agência é especializada em marketing esportivo, branding, patrocínios, avaliação de marcas e de propriedades esportivas.
2) Análise de Filipe Braga Cunha (blog Finanças Tricolor)
O blog Finanças Tricolor publicou que o endividamento total do clube ao final de 2018 é de R$200,1 milhões (redução de pouco mais de 6% ante o mesmo período de 2017). Se comparado a 2014, a redução foi de mais de 30%. As receitas de negociação de atletas foram fundamentais para tal equacionamento. Entretanto, a redução de R$13,8 milhões de 2018 foi bem menor que a ocorrida em 2017, período no qual o clube reduziu sua dívida em pouco mais de R$43 milhões.
O blog Finanças Tricolor entende como fundamental o detalhamento do endividamento do clube em: dívidas financeiras, tributárias e trabalhistas. Em seu primeiro post sobre o balanço de 2018, o Finanças Tricolor concluiu que que a redução do endividamento do clube em 2018 deu-se, quase que em sua integralidade, pela redução das dívidas tributárias. Leia a matéria completa aqui.
Agradeço ao blog Finanças Tricolor por me permitir compartilhar o assunto. O blog é especializado em finanças do São Paulo Futebol Clube. Filipe é formado em Administração de Empresas e especialista em Finanças e Investimentos. Fundador do blog e responsável por realizar análises independentes e detalhadas dos demonstrativos financeiros do São Paulo Futebol Clube.
Opinião de Daniel Perrone (blog São Paulo Sempre) – Os dois profissionais identificaram reduções nas dívidas do clube, principalmente em relação a 2014, porém Amir Somoggi apontou o assunto que mais me preocupa no momento: a falta de receitas.
Não é possível um clube como o São Paulo depender somente e quase que exclusivamente de vendas de jogadores e cotas de TV, como foi identificado no gráfico de pizza. O pecado não é ter dívidas e sim não ter receita para pagá-las. O potencial para gerar receitas do clube é enorme e nos últimos anos foi muito mal cuidado. Os principais pontos para geração de receitas são: Morumbi (estádio 100% pago), Sócio Tricolor (o clube é pioneiro no programa e um dos clubes com mais inadimplentes do país), Material esportivo (o modelo com a Adidas não possui um fee mensal e depende de esforços de venda) e o Licenciamento (lojas defasadas que precisam de um maior incentivo e produtos melhor trabalhados).
Resumindo: para mim, o atual problema financeiro do São Paulo está na falta de receitas, principalmente na área do Marketing. Espero que o diretor Rossi, de capacidade comprovada na área, tenha liberdade de atuação para levantar o marketing Tricolor. Do contrário, viveremos de vender nossos jogadores de base para o exterior.
Para acessar outras notícias do Blog São Paulo Sempre clique aqui.
Saudações Tricolores!
Daniel Perrone | São Paulo Sempre!
Me siga no Twitter
Me siga no Facebook
Me siga no Instagram
Post aberto para comentários.
(5) Comentários
Rubens vocal
14 de maio de 2019Só uma visão , se o clube não transforma isso em lucro, modernizaçao , proficionalismo econômico , de estrutura vai sair do senario do futebol e subunbira . Tá na hora de dar upgrade de competência no marketing pô pós são 20 milhões de torcedores . Mais nada adianta se não se foca nosso.
Rafael
8 de maio de 2019Tambem acho importante aumentar a receita com marketing, mas nosso manto nao pode virar uma bagunça de logotipos. O SCCP destruiu o proprio uniforme, é uma coisa horrorosa. Quando reclamos de falta de receita de marketing temos que ser mais precisos. É preciso valorizar os espaços existentes no manto
Bruno Lopes
7 de maio de 2019Então Perrone, É muito simples aponta apenas o departamento como responsável por suas receitas estarem caindo e comparar com 2014 era um outro momento da economia contrato de patrocínio e materiais esportivos.... Acho que a análise é mais ampla, qualquer vendedor tem dificuldade de vender um produto ruim, um produto que não se atualizou, um produto que tem uma marca pesada, forte mas que não funciona, e não parece ter uma repaginação..... O nosso SPFC é um produto ruim, que não perde a oportunidade de pagar com ingratidão ao torcedor, exemplo partida final contra o corinthans ( aumento abusivo e desconexo com a qualidade do futebol apresentado), jogo contra o flamengo por mais que seja um grande jogo, para vencer esses grandes jogos é mais importante ter 60000 pessoas no morumbi e ganhar um pouco menos em bilheteria do que jogar para 35000, 40000 que se sujeita a esse descalabro de precificação dinâmica. A independente na última quase queda demonstrou todo o apelo, toda a paixão que o torcedor tem pelo clube jogo junto, quando estavam na pior eles jogaram juntos com o time, foram recebidos, fizeram diversas ações para alavancar o time, saiu daquela fase ruim, deram as cotas, cortaram a conexão do time com a torcida que fez bem para o time, enchendo o estádio, criando a atmosfera para time, esse é um exemplo de como o clube atua mal com a sua torcida, como explora mal a paixão do torcedor. Dessa vez é primeira vez em anos que SPFC tem um excelente treinador que pode colocar esse time num caminho de títulos, eu não duvido que se desfaçam do time com as propostas que certamente chegarão, não tenho dúvida que Anthony, Liziero, Luan tenha propostas graúdas, talvez até o Toro receba uma continuando a jogar o que está jogando, além deles Arboleda deve ter proposta, quem tem a segurança que o São Paulo vai segurar esse time? Quem tem a certeza que o trabalho será mantido, vemos no Brasil que nenhum time tem sido campeão sem uma continuação de trabalho, continuação de projetos de médio prazo de 2 a 3 anos, e no nosso São Paulo se muda de projeto de 6 em 6 meses, é por isso que patrocinadores não acreditam no projeto do SPFC enquanto não acreditarmos num projeto, enquanto não voltar a aproximar a torcida do time, dificilmente vai ser solucionado aquisição de novas receitas.... Digo mais sem restabelecer essa conexão, não tem como fazer campanhas para mobilizar a torcida a comprar camisas, a assinar o plano de sócio torcedor, de ativar os produtos do patrocinador, com esses novos contratos de material esportivo que paga em cima do desempenho de vendas se o clube não atuar junto com o patrocinador para aumentar o apelo de venda os resultados serão xoxos, uma matéria que li que o banco Inter paga um percentual sobre o lucro das operações que os torcedores do SPFC, mas o quão divulgado é isso, o quanto o clube atua junto ao patrocinador para ampliar essas receitas.... Então nada é por acaso
Fernando
7 de maio de 2019Perrone, boa tarde! Tudo bem? Cara, eu moro em São José dos Campos (cidade com cerca de 700 mil habitantes e próxima a São Paulo), e você sabe quantas lojas do SPFC existem aqui?? Nenhuma!! Há alguns bons anos tínhamos duas, mas duraram poucos meses e fecharam. Na época, o SPFC estava indo bem das pernas, vencendo campeonatos, clássicos... mas as opções de materiais esportivos para nós torcedores eram poucas. E vejo que a única coisa que mudou foi a fase do time mesmo. Com relação aos materiais esportivos, continua tudo igual. O nosso marketing tem que melhorar isso. Não precisa ser como alguns times que a cada dia lança um uniforme novo, mas seria bom ter mais opções, principalmente para o uso casual. Um upgrade no Sócio torcedor também seria muito bem vindo, né?!
Cerberus
7 de maio de 2019A análise desse período negro do SPFC é bem simples: houve sim perdas colossais, sobraram marketing e erros primários de gestão e faltaram planejamento e futebol! E infelizmente ainda perdemos uma geração inteira de futuros tricolores do Morumbi. Torcedor desmotivado não consome, não gera renda, nosso time é uma jóia preciosa de marketing esquecida na prateleira empoeirada de um brechó.